我的唯一的上瘾将要是困难的

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quarta-feira, 5 de setembro de 2007

medo

hoje eu vi a cara do medo e ele acenou pra mim. disse que tava tudo bem, me deixou encolhida num canto, prostrada pela minha própria insegurança. o medo está vivo, ele está em todas as partes, congelando toda a beleza de viver.

eu tinha uma vida. tinha planos, vontades, valores. tinha mil coisas, algumas me faziam sorrir, outras acabavam comigo, e a maioria passava despercebida. mas eu tinha uma vida.

hoje acordei e vi a cara do medo. ele acenou pra mim da porta do quarto e me obrigou a ficar deitada. comandou todos os meus passos, assumiu o papel de tutor da minha infelicidade. me guiou até o vício, me obrigou a ficar. eu vi a cara do medo, lembro de cada detalhe do seu rosto. ele ainda está por aqui, espreitando pelos cantos, decorando meus gestos pra depois me chantagear.

eu vi a cara do medo e ele sorriu pra mim. quis me convencer de que estava certo, de que a grande realidade é tão absurda quanto meus pesadelos. o medo me coagiu, disse que era o culpado da minha insanidade e que só me deixaria feliz de novo se eu o obedecesse. eu obedeci. eu abdiquei da vida por mais um dia.