我的唯一的上瘾将要是困难的

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terça-feira, 21 de agosto de 2007

contos surrealistas

por onde começar? nem eu sei. no começo era vontade apenas. vontade pura e simples, sem pé nem cabeça. mas a vontade foi tomando forma conforme a figura se aproximava, uma vontade com não apenas pés e cabeça, mas braços musculosos, tórax definido e o sorriso de pasta de dente mais fatal que ela conhecia. 5, 10? quantos segundos demoraram até que ele a cumprimentasse? foi a espera mais pontuada de tortura de todos os seus 18 anos. sorria para júlia, acenava para alexandra, dava beijinhos em vanessa. o caos sem proporções definidas, até que os dois olhos castanhos se voltaram única e exclusivamente pra ela. e o caos se delineou na figura de 1,86 de gustavo.

pra bom entendedor, meia palavra basta. no caso de sofia, um olhar foi suficiente para que seguisse o garoto até os fundos da casa, onde não seriam atrapalhados por colegas invejosas. toda garota com hormônios gostaria de estar em seus lugar, disso não tinha dúvida. gustavo transpirava testosterona, e ela seria a primeira a conferir se ele usava bem seu potencial.

luzes baixas, temperatura agradável, perfume de jasmins: não poderia haver clima melhor. os sons abafados que vinham de dentro da casa denunciavam que aquele jardim era um mundo à parte, um mundo constituído de sonhos delirantes e do inebriante cheiro de gustavo. em meio à elogios sobre sua beleza, sua marcante presença no comitê estudantil da universidade, suas redações impecáveis, sofia sentia-se uma vencedora. seu prêmio era gustavo, por todos os 18 anos aturando a vida, o pai violento, a mãe sem postura. o prêmio que ela conseguiu sozinha, assim como todas as coisas que havia conquistado em sua jornada.

e quando sofia pensou que já havia atingido o clímax com os elogios do menino, gustavo a beijou. não, definitivamente a boa conversa não era nada em comparação à seu beijo: tinha lábios mornos, macios, e a língua parecia que tinha vontade própria. mas não a vontade de gustavo e sim a de sofia, pois ela advinhava os desejos mais inconfessáveis da menina. parecia que haviam passado a vida se beijando.

de início, foi um beijo lento, cadenciado, onde ele explorou todas as fraquezas de sofia, para depois poder usá-las num beijo apaixonado, tórrido, que derreteu até suas mais profundas certezas. tempo e espaço se fundiram num misto de êxtase e loucura, e uma hora mais tarde, quando deixaram o jardim, sofia se sentia a mulher mais completa do universo.

chegando na sala, a voz rouca e sexy da cantora parecia um convite. mais do que isso: era um verdadeiro apelo aos sentidos dos seus ouvintes. casais se aglomeravam ao redor do palco improvisado, dançando lenta e sensualmente, explorando mutuamente seus corpos na sinfonia ritmada da música. calor, sofia sentia muito calor. e ao pensar nisso, como que por mágica, começou a cair neve do lado de fora da casa. a música parou e todos os presentes se assustaram, pois não conseguiam explicar porquê caía neve em alto verão.

após trocar olhares confusos com gustavo, sofia resolveu investigar. e entre as expressões curiosas e incrédulas, caminhou em direção à parte externa da casa. da porta, avistou uma mancha vermelha em meio à um monte de neve acumulada ao pé da romanzeira. gustavo gritou para que ela não seguisse em frente, mas a menina fez que não ouviu. seu corpo tremia, não de frio, mas de expectativa. a curiosidade surgiu e movida por ela, sofia se dirigiu á arvore. ela reconheceu o cheiro, apesar de não saber como: era sangue. e do lado de um machado cego, estava o corpo de seu pai, estilhaçado. músculos, ossos, entranhas, que pareciam muito inconvenientes em sua aparência fétida, contrastavam com a neve imaculada. e na mão direita do cadáver, estava o coração, ainda batendo, respingando sangue em seu micro-vestido de seda branca.

movida ainda pela vontade insana, sofia arrancou o coração da mão de seu pai. sem hesitar, rasgou o orgão e encontrou dentro da cavidade oca, um motor e uma foto 3x4. arrancou-os. sem o motor, o coração parou de bater e de bombear sangue para o nada. e sem a foto, o orgão enegreceu e virou cinzas. abandonou as cinzas no chão, se levantou e limpou a fotografia. nela, encontrava-se um homem. sérgio, pensou ela. amigo do seu pai à muito tempo.

suja de sangue, voltou para a companhia de gustavo. quando entrou na sala, porém, não enxergava mais a cena que havia deixado pra trás à apenas 3 minutos: havia somente o breu profundo e o som de um bater de asas. não apenas um pássaro, mas um bando parecia voar dentro do salão, pássaros invisíveis que atordoavam os tímpanos da menina. em vão, sofia gritava por socorro e corria pelo aposento escuro. na correria, tropeçou no seu próprio pé e caiu em algo macio. quando abriu os olhos, viu apenas seu quarto banhado pela luz do luar. a foto 3x4 de sérgio sorria para ela na mesinha de cabeceira.


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bom, resolvi dar sinal de vida. respondendo às perguntas de vocês, eu estou bem. hoje fui no médico e comecei meu tratamento pra depressão e insônia. incluindo remédios tarja preta e psicólogo. portanto, acho que serei mais frequente aqui no blog ^^
espero que vocês tenham gostado do conto, resolvi ser surrealista hoje. pode ser que eu siga essa linha, mas não posso afirmar nada. os ventos mudam de direção muito de repente.
obrigada aos leitores que, graças a deus, só se multiplicam.
até mais, pessoas!